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O Magnetismo nas Relações Sociais
A Submissão do Ser Humano através de suas Fraquezas
Por Nessahan Alita
(Inspirado em um livro de Eliphas Lévi)
Dados para citação:
ALITA, Nessahan (2002). O Magnetismo nas Relações Sociais: A Submissão do Ser
Humano através de suas Fraquezas. Edição virtual independente de 2008.
Palavras-chave:
magnetismo - atração - encantamento - paixões - vontade
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O Magnetismo nas Relações Sociais
Introdução
1. As atrações e repulsões
2. As cadeias magnéticas
3. A resistência e a manipulação das correntes
4. A manipulação e a instrumentalização das crenças
5. As tendências de instalação da crença
6. A natureza da paixão humana
7. A apoderação da vontade alheia
8. O caráter auto-dominatório da manipulação
9. A singularidade comportamental do elemento passivo
10. O uso da simpatia da maioria dos elos de uma cadeia por homens vis
11. O magnetismo nas polêmicas
12. A dinâmica psicológica do encantamento e da feitiçaria
Conclusões
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Introdução
Neste pequeno ensaio tenho por meta demonstrar a necessidade de
superarmos nossas fraquezas passionais: os desejos e os medos.
Por meio das fraquezas, estamos expostos à maldade e à manipulação.
Somos vítimas de várias circunstâncias pela debilidade de nossa vontade.
O homem nasce da vitória sobre o animal, sobre o instinto. Vencer o
instinto não é enfraquecê-lo ou suprimí-lo, mas dominá-lo, transcendê-lo,
dirigi-lo e usá-lo em nosso favor. Em uma palavra: assimilá-lo.
A domínio sobre os instintos requer a morte dos egos, elementários,
agregados psíquicos, eus, valores, complexos ou como queiramos chamá-
los: os nossos defeitos. Nos confere um poder inigualável. Entretanto,
aquele que fizer uso errado ou egoísta do poder será um criminoso e terá
que responder por isso.
Apenas com a finalidade de dar orientação e permitir às pessoas que
se protejam das malignas influências hipnóticas da vida é que forneço esses
importantes conhecimentos sobre a manipulação do homem.
Esclareço que os conhecimentos contidos neste livro não apresentam
nenhuma relação com as técnicas hipnóticas e/ou manipulatórias mas, ao
contrário, resultam de reflexões filosóficas diametralmente opostas. A
intenção deste trabalho é auxiliar as pessoas a resistirem a múltiplas
influências hipnóticas, sugestões subliminares, influências psíquicas,
manipulações mentais e fascinações, combatendo as nefastas influências de
quaisquer técnicas e processos de ludibriação manipulatória que
intensifiquem o adormecimento da consciência. Posiciono-me
completamente a favor do despertar da consciência e radicalmente contra o
seu adormecimento.
Desejo-lhe a vitória.
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1. As atrações e repulsões
Em 29 de dezembro de 2002.
As relações sociais obedecem a princípios magnéticos como o fazem
os corpos inanimados.
Os seres humanos instalam entre si e com o mundo relações de
atração e repulsão: são atraídos pelo que gostam e repelidos pelo que
detestam. Quando são irresistivelmente atraídos ou repelidos, atua o
magnetismo universal.
Por trás das influências magnéticas estão as fascinações. A qualidade
das mesmas determinam o que será atraente ou repelente. Quanto mais
expostos à fascinação estivermos, mais vitimados pelas circunstâncias
seremos.
Os fluxos magnéticos formam estruturas sociais que vão dos pares de
casais, famílias ou parcerias de amigos até a humanidade inteira.
A força psíquica promove agregações sociais por afinidade simpática
e desagregações por efeitos antipáticos. A simpatia se origina da
convergência de desejos e a antipatia da divergência.
O sentido assumido pelo desejo é o fluxo da libido. Uma mesma
pessoa possui múltiplos e conflitantes fluxos libidinais. Sua linha
psicológica principal será determinada pelos fluxos libidinais
predominantes, os quais a expõem ao perigo da manipulação por um inimigo
astuto, que tenha experiência na dominação dos sentimentos alheios.
Os manipuladores intensificam a simpatia ou a antipatia por meio da
excitação dos desejos conscientes e, principalmente, inconscientes de sua
vítima, levando-a à dependência, à entrega e à submissão completas. O
segredo de seu perverso poder é a engenhosa estratégia de identificar as
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paixões da vítima que lhe serão úteis, estimulá-las e acentuá-las. A vítima
deste modo é induzida, inconscientemente, a adorá-lo, temê-lo ou odiá-lo.
A força magnética é muito perigosa. Seu poder de atração pode ser
muito intenso e nos fulminar. Para movimentá-la precisamos de um ponto
de fixidez, o auto-centramento, o qual é obtido por meio da dissolução dos
complexos que nos confere liberdade comportamental e o poder de resistir
às atrações e repulsões fatais do magnetismo universal.
É sempre conveniente, na medida do possível, evitar antipatias mas
para tanto é necessário dissolver os egos. A antipatia não nos é em geral
favorável a não ser que disponhamos de intensa dose de simpatia para lhe
fazer frente de maneira muito segura. Devemos evitar ao máximo a
constelação de antipatias.
Quando mexemos na corrente magnética, isto é, no fluxo libidinal
interpessoal ou intrapessoal, desencadeamos reações. A presciência das
mesmas é fundamental para não sermos fulminados.
O meio para determinar simpatias e antipatias é a observação. Por
meio da observação o manipulador descobre quais são os objetos de amor e
de ódio. A afinidade simpática se estabelece pela correspondência de
atitudes, pela convergência de comportamentos. Se atuarmos contrariamente
ao que alguém detesta e favoravelmente ao que alguém ama, entraremos em
afinidade simpática.
Para se superar uma grande antipatia é preciso uma dose superior de
simpatia. A supressão de um ódio ou mágoa imensos requer a aplicação
exaustiva do magnetismo em sentido contrário e proporcional à hostilidade
sentida.
Somos seres altamente mecânicos. Reagimos aos acontecimentos
automaticamente e dentro de padrões detectáveis. Para sermos induzidos a
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ações ou estados de mente e sentimento, basta que o manipulador conheça a
forma de provocá-los.
Por exemplo, induzimos alguém que sente prazer na oposição gratuita
a defender nossas idéias quando fingimos defender idéias opostas às que em
realidade são as nossas. Induzimos um fofoqueiro a propagar uma notícia
quando lhe pedimos para ocultá-la sob a alegação de ser um grande segredo.
Assim age o manipulador.
O primeiro passo na manipulação é a identificação dos
condicionamentos do outro. O segundo passo é descoberta do agente
desencadeador da ação mecânica. O terceiro passo é a instrumentalização
desse condicionamento, a descoberta de situações em que o mesmo é útil
aos nossos propósitos. Então basta “apertar os botões” e as reações se
desencadeiam.
O manipulador faz um levantamento dos condicionamentos
comportamentais e dos objetos que exercem atração e repulsão em sua
vítima. Então os utiliza conforme as circunstâncias.
Quando as reais intenções do manipulador são percebidas, sua
imagem sofre um desgaste perante a vítima. Para recuperá-la, este precisa
agir como se o objeto de seu desejo fosse altamente desinteressante e, em
seguida, dar continuidade aos atos encantadores.
Na manipulação opera-se por alternância. Não se opõe força contra a
força mas, ao contrário, se intensifica e instrumentaliza os fluxos de força
existentes. A insistência em uma única direção produz um fluxo de força
resistente na direção contrária. A lisonja e o carinho contínuos e excessivos
conduzem à irritação e ao fastio. A indiferença e o desprezo contínuos
consolidam a frieza e afastamento.
O manipulador combina dialeticamente os opostos: toma atitudes
encantadoras ao mesmo tempo em que simula estar desinteressado. Então
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vai acompanhando a evolução do processo de enlouquecimento de sua
vítima.
Pode-se induzir no outro estados internos por simpatia ou antipatia.
Todas as nossas atitudes desencadeiam no outro reações mecânicas contra
as quais se é indefeso. Para instrumentalizá-las, basta observar os efeitos de
cada atitude e descobrir situações em que seriam desejáveis.
As pessoas reagem automaticamente ante as circunstâncias, de modo
padronizado. São absolutamente manipuláveis através de um jogo de atração
e repulsão que corresponde ao fluxo do magnetismo universal.
A voz e o olhar são poderosas ferramentas de encantamento. Induzem
a atitudes de modo facilmente verificável.
Encarar ou ofender verbalmente um homem de natureza exaltada é
induzí-lo, sem chances de defesa, a criar um conflito e cair em estados
psicológicos negativos.
A simpatia se estreita e intensifica quando alguém toma as idéias do
outro e a desenvolve e amplifica como se fossem suas através da palavra.
Ao endossar as frases do próximo, estará cumprindo sua vontade.
O contato contínuo mas não desgastante por insistências unilaterais é
essencial no instalação da simpatia ou antipatia. A distância prolongada
induz ao esfriamento, à neutralidade.
Em torno de um objeto de desejo ou de ódio, pode-se criar toda uma
cadeia magnética envolvendo um número infinito de pessoas.
Obviamente, o desejo está contido no ódio sob forma de intensos
impulsos de buscar a distância ou de ocasionar danos ao objeto detestado.
Querer afastar-se de uma situação é quase o mesmo que querer aproximar-se
da situação oposta.
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Nos níveis inconscientes da psique, o magnetismo apresenta liberdade
de direcionamento e intensidade em seu fluxo. Continuamente nos
influenciamos reciprocamente sem o perceber. Eis o perigo do manipulador
hábil.
O manipulador hábil consegue enxergar a parte oculta da psique
alheia. Identifica e instrumentaliza fraquezas que a vítima desconhece
possuir para transformá-la em um fantoche excitando suas debilidades e
induzindo crenças.
Os padrões de atração e repulsão de cada pessoa apresentam um
estrato individual, exclusivo dela, e um estrato coletivo, compartilhado com
outras pessoas ou até mesmo com a humanidade inteira.
A simpatia se instala quando uma pessoa considera que outra a
auxiliará a realizar seus desejos. Antipatia se instala na situação oposta:
quando a satisfação do desejo é ameaçada.
Opor-se à satisfação do outro é torná-lo nosso inimigo e favorecê-la é
torná-lo nosso amigo. Dar livre curso aos desejos alheios é tornar a si
mesmo de algum modo útil e necessário ao outro.
Contra os próprios desejos, a resistência dos seres humanos comuns é
nula por não terem dissolvido o ego. Não se tem notícia da existência de
alguém que se torne inimigo de uma pessoa por ter sido auxiliado pela
mesma na satisfação de seus desejos, sonhos, anelos etc. Depreende-se,
assim, que este é um ponto fraco que nunca se fecha. Tal abertura à
manipulação é utilizada pelos malfeitores expertos mas pode também ser
aproveitada em casos justos nos quais precisamos nos defender ou ajudar
alguém.
Uma vez excitada a paixão ou desejo, seu portador se mobiliza para
satisfazê-las, atirando-se em direção ao objeto cobiçado como uma bala de
revólver em direção ao alvo. É algo absolutamente mecânico e irresistível.
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O controle deste processo exige do manipulador a capacidade de influenciar
sem ser influenciado, de encontrar nos impulsos alheios utilidades, de
aceitá-los tal como se manifestam e de conhecer as palavras e ações que os
intensificam.
São particularmente interessantes os casos em que o elemento
manipulado acredita estar enganando o manipulador ao ter os seus desejos
satisfeitos. As pessoas mais propícias a este tipo de enganação são as pouco
evoluídas, muito primitivas e que querem sempre levar vantagem às custas
do próximo. Obviamente, é exigida imensa frieza e indiferença por parte do
elemento ativo para que ridicularizações, escárnio etc. sejam suportados
com tranquilidade.
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2. As cadeias magnéticas
Quando as vontades se unem, formam cadeias magnéticas (egrégoras).
Por afinidade simpática, formam-se e propagam-se socialmente espontâneas
cadeias de sentimentos comandadas desde o centro por indivíduos
manipuladores. As cadeias podem ser de teor político, comercial, artístico,
religioso etc. A abrangência temporal e espacial que possuem é variável.
As guerras são exemplos de cadeias magnéticas altamente destrutivas
e se devem ao choque de cadeias antagônicas.
No atual mundo globalizado, formam-se cadeias simpáticas de
abrangência geográfica internacional que podem ter como núcleo uma
empresa, um governo, uma notícia, uma grande produção do cinema ou da
arte.
Quanto mais extensa for uma cadeia simpática, maior será sua força.
A força simpática se propaga pela comunicação entusiasmada contínua e se
desencadeia por práticas sólidas.
Os seres humanos comuns necessitam de liderança. Um homem de
gênio forma sua própria cadeia para atingir seus objetivos. Adquire um
ponto de fixidez, a imobilidade psíquica, e desencadeia em seguida uma
ação circular perseverante de iniciativas. Possui grande força de ação e
direção. Se for um gênio do bem, utilizará sua força para ajudar seus
semelhantes. Se for um gênio do mal, os levará à desgraça e terá que
responder por isso.Hitler foi um gênio do mal. Hoje há muitos gênios do
mal ativos.
O movimento do agente magnético é duplo e se multiplica em sentido
contrário pois a cada ação corresponde uma reação equivalente (por
exemplo: o privilégio concedido a alguém desencadeará a simpatia do
beneficiado por quem o concedeu mas, ao mesmo tempo, provocará a
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antipatia dos inimigos do beneficiado ao benfeitor). O segredo consiste em
calcular as reações antecipadamente e evitar agir por impulso. Aquele que
não se isola das correntes magnéticas é fulminado por não resistir à
tentação de satisfazer seu desejo a despeito das reações contrárias e
perigosas que sua satisfação possa desencadear. Cada ato cria uma
sequência encadeada de efeitos em rede.
As opiniões circulantes influenciam diretamente a força do agente
magnético formador da cadeia, motivo pelo qual é preciso avaliar
cuidadosamente a abrangência e a profundidade das predisposições
existentes, sob o risco de se desencadear uma catástrofe contra nós mesmos
ou contra o mundo.
O amor é superior ao ódio por ser intrinsecamente simpático. Cristo
foi crucificado por estar influenciando a multidão progressivamente e em
um sentido contrário aos interesses dos centros das cadeias mais fortes de
sua época.
As cadeias estão submetidas a um movimento pendular, evoluem e
involuem. Uma cadeia finalizante é sucedida por uma cadeia oposta.
Atualmente (ano 2003), a cadeia simpática mundial que tem os EUA
como centro entrou em lento movimento regressivo. Os democratas
retardam esse processo histórico através de sua maleabilidade e os
republicanos, seus antagonistas, o apressam através de atitudes unilaterais.
George Bush acelera a difusão do anti-americanismo no mundo sem o
querer e apressa, portanto, a derrocada do império dentro da escala
temporal das idades das nações.
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3. A resistência e a manipulação das correntes
Uma chave utilizada pelos manipuladores para o encantamento e o
enfeitiçamento é a capacidade de esperar os resultados de antemão e
acompanhá-los lentamente, com paciência e sem ansiedade por atingir a
meta. O pretenso encantador que esteja tomado de paixão fracassará por não
suportar a espera. O mesmo necessita ir contra si mesmo, conter-se, para
acompanhar a evolução do processo.
É impossível que alguém seja escravo e senhor ao mesmo tempo, com
relação a um mesmo fluxo magnético. Se uma pessoa estiver imune à
atração, será senhor do objeto; se for vitimada pela paixão, será escrava. É
por isso que aqueles que tentam manipular as forças magnéticas para fins
pessoais são fulminados mais cedo ou mais tarde.
Resistir às atrações e repulsões é resistir às tentações. Os agregados
psíquicos são os fatores de debilidade. Quando mortos, estamos imunes à
manipulação pois as fraquezas estarão eliminadas. Aqueles que não
suportam as tentações colocam a satisfação dos desejos à frente dos efeitos
colaterais das ações e se queimam ao tentar criar cadeias simpáticas que
atendam aos seus desejos e concupiscências pois não possuem presciência
das reações sociais que serão liberadas. A pessoa tomada por um dsejo está
louca, sendo incapaz de julgar e discernir.
Quanto mais débil, propensa à histeria, nervosa, impressionável,
fascinável e menos resistente psiquicamente aos acontecimentos for uma
pessoa, maior será seu poder inconsciente de concentração e propagação da
força magnética e sua atuação como elemento propulsor da cadeia. O
entusiasmo é altamente contagioso.
Através de atitudes, o charlatão exalta a paixão alheia. Entretanto, a
paixão concentrada é altamente contagiosa e pode fulminar o pretenso
manipulador em um movimento retrógrado caso esteja tomado por desejo
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passional e não se isole da corrente magnética que concentrou e começou a
movimentar. O isolamento se consegue pela recordação de si e pela morte
dos egos
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.
Quanto mais mortos estivermos psiquicamente, tanto menos
condicionados estaremos e tanto maior será nossa capacidade de nos
comportarmos de maneira a simpatizar ou antipatizar com o outro.
A dissolução dos egos erradica os condicionamentos
comportamentais, nos proporcionando liberdade interna para agirmos tanto
de uma maneira como da maneira oposta, de acordo com as necessidades
circunstanciais. Ao invés de vítimas, nos convertemos em senhores das
circunstâncias.
Para dominar o fluxo dos acontecimentos é necessário, antes de tudo,
não possuirmos condicionamentos comportamentais. Os condicionamentos
comportamentais são fraquezas por onde somos manipulados pelas
circunstâncias.
Aquele que se entrega a uma paixão não pode dominá-la pois está
dominado. O simples aparecimento de um velhaco que o tome através desta
paixão o converterá em escravo.
Aquele que estiver imune ao magnetismo, ou seja, à fascinação e,
consequentemente, sem o condicionamento comportamental correspondente,
pode influenciar algumas paixões do próximo por meio de outras paixões
que o mesmo possua pois os fluxos libidinais de cada pessoa são múltiplos
e conflitantes. Deste modo, podemos fazer com que uma pessoa que nos
odeia passe a nos amar ou decepcionar alguém que nos admira. Toda ação,
atitude ou comportamento exerce em efeito sobre os sentimentos de quem a
sofre ou presencia.
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Refiro-me a manipulações sadias, utilizadas em legítima defesa, que não violentam o livre-arbítrio alheio e
não atendem a fins egoístas.
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Enquanto tenhamos os egos vivos, seremos manipuláveis. Se, em um
dado instante, alguém for incapaz de nos manipular, isto se deverá
unicamente ao fato de não estar emitindo os comandos corretos. Somos
robôs viventes, de carne e osso, autômatos que atuam mecanicamente de
acordo com as circunstâncias. Basta que sejam apertados alguns botões para
que tenhamos certos sentimentos, determinados pensamentos e executemos
automaticamente as ações correspondentes. O que impede nossa total
manipulação é unicamente o desconhecimento dos corretos comandos por
parte do manipulador e não nossa resistência ao fatal poder do magnetismo
universal. Este é o ponto central a ser compreendido.
O desconhecimento é a causa das tentativas de enfeitiçamento e
encantamento que surtem efeitos contrários aos almejados. Explica, por
exemplo, porque um homem que entrega flores de joelhos a uma mulher não
conquista seu coração ao passo que outro que a ignora ou rejeita por
considerá-la feia torna-se objeto de sua obsessão. O que ocorre aqui é um
desconhecimento da mecânica do magnetismo: aquele que entrega flores não
compreende que seu ato surte um efeito oposto ao esperado.
São fatos interessantes de se observar as provocações irritantes que
visam enfurecer ou as agressões que visam ferir o próximo. O
agressor/provocador necessita do sofrimento de sua vítima e atua de modo a
alcançar esta meta, tendo por motivação a crença de que seu ato surtirá o
efeito imaginado. Quando o efeito obtido com tais atitudes hostis é oposto
ao esperado pelo manipulador, este sofre as consequências do processo que
criou. Isso se chama "efeito especular do feitiço". O velhaco, ao tentar
ferir, está movido pelo desejo de causar sofrimento e, portanto, submetido a
uma paixão. Se a psiquismo da vítima, por sua peculiaridade natural ou
treinamento espiritual, repele a força magnética, isto é, não aceita a
influência, a paixão do agente não é satisfeita e o mesmo sofrerá na
proporção dos seus desejos de causar o mal, os quais se converterão em
verdadeiros parasitas interiores que o tragarão vivo. Por isso se diz que o
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feitiço repelido retorna àquele que o lançou. Exemplos: se um homem tenta
me ridicularizar ou irritar e descobre que seu ato provocador me faz bem ao
invés de mal, por eu considerar sua atitude ridiculamente engraçada ou
agradável, sentirá em si mesmo os estados emocionais negativos que havia
destinado a mim; então se enfurecerá com a intenção de me amedrontar para
que eu sofra com o medo mas, se descobrir que considero suas ameaças vãs
por serem visivelmente inofensivas, sofrerá mais ainda. Seu sofrimento será
diretamente proporcional à sua impotência em me fazer mal. Seu sofrimento
somente irá abandoná-lo quando conseguir me causar algum dano. O
fracassado manipulador insistirá dia e noite na tentativa de transferir sua
dor para mim. Sua situação será ainda pior se eu não lhe houver dado
nenhum motivo para me odiar. Então, neste caso, eu terei repelido todos os
seus fluxos magnéticos, todos os seus feitiços e tentativas de hipnotização.
Apesar de eu estar aparentemente passivo, minha ausência de reação e meu
silêncio serão sentidos como atos provocadores de múltiplos sentimentos e
pensamentos resultantes do trabalho involuntário da mente do inimigo, a
qual então irá corroê-lo. A morte do ego nos transforma em um espelho que
refrata os feitiços. Exemplo: um vendedor que fracassa em encantar o
cliente, um sedutor que se apaixona miseravelmente por uma mulher que
tentou encantar etc.
É importante emanciparmos a vontade, torná-la livre das influências
das circunstâncias, o que se consegue por meio da morte dos egos.
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4. A manipulação e a instrumentalização das crenças
Um dos requisitos para provocar a paixão é ocultar esta intenção para
que o ego da vítima não reaja à manipulação de sua mente. Caso esta
chegue a tomar consciência das reais intenções do criminoso, reagirá com
indignação ao fato de estar sendo manipulada e usada, compreenderá que os
atos falsos e fingidos do manipulador têm como único objetivo o controle
do seu comportamento.
O charlatão hábil faz a vítima crer que domina a situação e que o es
enganando. A crença da vítima em sua autonomia é fundamental para evitar
reações contrárias.
Os padrões individuais ou coletivos de reações mecânicas obedecem
às crenças. Manipular crenças é manipular significados atribuídos e, por
extensão inequívoca, as reações correspondentes. Os significados se fazem
e alteram através de atitudes. O manipulador será tanto mais perigoso
quanto maior for sua liberdade interna, ou seja, sua capacidade de tomar
atitudes antagônicas dentro de uma mesma situação.
Por ser capaz de assumir o comportamento que quiser, o espertalhão
induz crenças a seu bel prazer. Atua como santo para que creiam que é
honesto ou como cafajeste para que creiam que é desonesto. Atua como
tímido para que creiam que é covarde ou como arrogante para que creiam
que é poderoso.
A força magnética habilmente instrumentalizada em manipulações da
mente alheia é hipnótica. Um estado hipnótico induzido é um estado de
crença. Se o hipnotizado for levado a crer que é um cão, latirá. Se for
levado a crer que seu amigo vai matá-lo, tentará se defender travando uma
luta de vida ou morte.
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As crenças possuem intensidade variável, na proporção direta da qual
influenciam a conduta. Acreditamos facilmente naquilo que desejamos ou
tememos intensamente.
Induzir crenças é operar sobre a imaginação. Se estou convicto que
fulano é um ladrão, é porque assim o imagino.
Os combates ideológicos, verbais ou corporais são definidos pelo
poder de indução de crenças. Aquele que for induzido a crer que é inferior
ao adversário será derrotado.
As crenças e imaginações definem, portanto, o sentido fluxional do
magnetismo universal.
Aquele que odeia atua de acordo com o que acredita poder ferir o
inimigo, física ou emocionalmente, porque sua intenção é prejudicar.
Aquele que ama atua de acordo com o que acredita poder ajudar ou proteger
a pessoa amada. O manipulador pondera previamente a respeito das reações
de sua vítima com a intenção de prevê-las e desencadeá-las. Pergunta-se,
diante do inimigo: de que maneiras esta pessoa tentará me prejudicar caso
eu provoque o seu ódio? Em seguida busca benefícios ocultos entre as
possíveis tentativas de danificação. Se o identifica, calcula as
probabilidades de que a vítima reaja exatamente da forma prevista. Em
seguida aperta os botões. As crenças do odiante condicionam suas ações em
relação ao odiado. As ações do odiado são como botões psicológicos que
ativam de forma exata certos comportamentos ao serem apertados. Tudo se
resume em encontrar os botões corretos de acordo com os benefícios que
busca o manipulador. Um erro de cálculo pode ser fatal. O ódio é um dos
impulsionadores mais fortes do comportamento. Aqueles que eliminam o
ego, eliminam os botões.
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5. As tendências de instalação da crença
Os homens são tão inocentes que acreditam rapidamente em qualquer
comportamento que os pilantras simulem. Também tendem a crer, sem
duvidar, no que dizem pessoas que admiram ou amam.
Quando algo é dito para alguém atras de palavras diretas, a pessoa
tende mais facilmente a desconfiar do que quando é dito indiretamente,
através de palavras que tenham o desdobramento desejado pelo manipulador
ou através de comportamentos simulados. Este é o mecanismo da
propaganda subliminar utilizada por empresas e desenvolvidos por certos
especialistas na arte de ludibriar os trouxas.
Parece-me sobremaneira difícil aos homens duvidarem dos
comportamentos simulados. Basta que alguém simule desafiar um homem,
ridicularizá-lo ou estar interessado em sua esposa para desviar rapidamente
sua atenção de alvos que não tenham relação com esses pontos. Então o
mesmo se converterá em vítima indefesa.
Uma mulher é incapaz de crer que um homem está fingindo quando
este simula olhar para seus decotes ou para suas pernas. Um indivíduo
arrogante não consegue desconfiar da autenticidade do comportamento
daquele que simula ser submisso ou se envergonhar diante de seus ataques.
Conduz-se facilmente a crença alheia quando se tenta direcioná-las no
rumo de suas tendências naturais: seus desejos e medos. As pessoas
acreditam facilmente no que temem e no que desejam. Deste modo, suas
paixões são excitadas.
Para domar sua vítima, é fundamental ao charlatão enganá-la,
fazendo-a crer através de atitudes manipulatórias. Mas o manipulador
também pode se valer da fala indireta ou da fala direta a um terceiro que
seja caro à vítima.
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Um dos segredos da manipulação consiste em conseguir identificar as
possibilidades de indução de crença no outro e instrumentalizá-las. O
manipulador necessita saber em que campo aplicá-las e principalmente,
diante da necessidade, saber qual é a melhor crença que poderá ser
induzida. Se o manipulador falhar nesse cálculo, cairá no descrédito e seu
poder magnético ficará reduzido.
A reação antipática do manipulador à forma peculiar de expressão do
outro dificulta a manipulação. Ao invés de opor força contra força, tentando
forçar a vítima a deixar de ter a atitude antipática, os mais astutos
consideram estratégico receber e aceitar a pessoa tal como é e lhes chega,
dirigindo suas crenças dentro das possibilidades fornecidas por suas
tendências passionais naturais. Não é possível criar paixões novas mas é
possível atiçar e excitar paixões latentes previamente existentes. A
dificuldade está em encontrar as tendências espontâneas do outro que sejam
úteis aos propósitos manipulatórios.
Na manipulação, importa mais a capacidade de encontrar sentido nas
fraquezas passionais previamente existentes da vítima do que a capacidade
de forçar sua vontade. Mas para tanto, faz-se necessário antecipar os
resultados que a excitação das paixões provocará e escolher a paixão
correta que resultará no resultado almejado. Trata-se de um cálculo em que
um pequeno erro pode ser fatal.
A miopia em detectar os efeitos de uma paixão excitada pode fazer
com que os mesmos sejam revertidos contra quem tentou desencadeá-los.
Daí a importância, nos casos de legítima defesa em que devolvemos os
feitiços e desarticulamos manipulações, de termos uma consciência
penetrante e envolvente, que consiga captar os fatos com abrangência e
profundidade para minimizar o risco dos efeitos colaterais e, ao mesmo
tempo, sermos altamente resistentes ao contra-impacto magnético do
manipulador que estiver sofrendo os efeitos do retorno especular.
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O contra-impacto magnético é o efeito colateral da tentativa de
fascinação e pode surgir como reação consciente de defesa legítima por
parte daquele que está recebendo o contra-feitiço. Somente a fortificação da
vontade por meio da morte dos egos confere resistência contra o mesmo.
Quando o manipulador se depara com uma pessoa resistente ao seu
magnetismo, sente-se impotente e é atingido pela antipatia. O caminho para
não termos nossas crenças manipuladas é isolar o manipulador em suas
tentativas de manipulação, para que ele perca o seu tempo com vãs
tentativas solitárias.
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6. A natureza da paixão
A essência da paixão é a necessidade. Aquele que está apaixonado
necessita do objeto de paixão e não suporta a sua falta.
O objeto de paixão sempre é visto como superior pelo apaixonado e
jamais como inferior ou igual. Daí sucede que o repúdio intensifica o desejo
do repudiado.
Desejamos aquilo que acreditamos necessitar, mesmo que seja apenas
para o nosso bem estar. Não há desejo sem necessidade, ainda que apenas
psíquica. Quando não desejamos algo, não precisamos daquilo. E se temos
aversão, precisamos é do afastamento.
As mulheres amam alucinadamente os homens ricos, famosos e
poderosos porque eles não necessitam delas. Os homens desejam
ardentemente as mulheres lindas porque elas não necessitam deles.
Sabendo disso, há pessoas que manipulam as paixões alheias e
submetem o próximo a torturas emocionais. Através das atitudes,
comunicam subliminarmente ao outro que estão em posições vantajosas e
não necessitam de ninguém, inclusive no sentido afetivo-erótico. As
pessoas que exercem sobre o sexo oposto atrações poderosas comportam-se
como se tivessem à sua disposição, a qualquer momento, os seres mais
interessantes e desejáveis do mundo. Deste modo, sugerem sutilmente, de
maneira quase invisível: “Não preciso de você porque disponho do amor e
do desejo de pessoas muito melhores”. O inconsciente das vítimas, então,
acredita que estas pessoas altamente atraentes sejam quase sobre-humanas e
escondam algum segredo maravilhoso, prazeres inimagináveis e amores
inefáveis. Este é o motivo pelo qual as mulheres se lançam com tanta
determinação na conquista de um homem quando sabem que ele dispõe de
uma companheira maravilhosa, que todos gostariam de ter.
22
O processo de apaixonamento é o processo de instalação de uma
crença através da imaginação exaltada: a crença de que o outro é
infinitamente superior a nós e um caminho para a realização de todos os
nossos sonhos.
Portanto, no jogo da paixão vence aquele que possui mais força
interna e não se deixa fascinar.
A oscilação intencional entre atitudes opostas é uma artimanha do
elemento ativo, apaixonador, para estimular a paixão da vítima até a
loucura; é aplicada por meio de estratégias práticas que variam
infinitamente.
As estratégias consistem, muitas vezes, em enviar sinais opostos ao
inconsciente do elemento passivo de modo a confundí-lo e submetê-lo.
Vejamos alguns exemplos:
1. Marcar um encontro, aparecer e tratar bem a pessoa de
modo a encantá-la. No dia seguinte faltar e apresentar uma desculpa a
tempo, antes que o elemento passivo se polarize na aversão.
2. Maltratar levemente o apaixonante e agradá-lo após
algum tempo, antes que se polarize na aversão.
Aquele que tenta encantar sem ter a força interna necessária para
resistir aos efeitos colaterais do encantamento é fulminado pelas forças que
desencadeou.
Mulheres e homens experientes ou que sofreram muitas vezes com o
apaixonamento, desenvolvem grande resistência ao encantamento.
Administram os opostos à vontade porque não temem perder o parceiro.
Dificilmente caem nas garras de elementos apaixonantes porque estão
protegidos pelo ceticismo e duvidam do comportamento simulado do
manipulador.
23
A superação da barreira manipulatória imposta pelos jogos de atitudes
contrastantes é alcançada quando o fluxo hipnótico é devolvido ao emissor.
A devolução requer:
1. que a vítima apaixonante perceba a intenção das estratégias do
outro;
2. comporte-se como se não tivesse ciência do que se passa;
3. conquiste a independência interna (conseguindo ser indiferente
tanto às manifestações de amor como de desprezo);
4. administre os sentimentos do apaixonador com suas próprias
estratégias.
A vítima apaixonante é mantida constantemente na dúvida através das
atitudes contraditórias do apaixonador. Um mistério é criado e mantido a
todo custo por meio de atitudes incoerentes e contrastantes.
As atitudes de afastamento, geradoras de repulsão, nunca são
extremas. São sempre tênues pois as atitudes extremas eliminam a dúvida na
vítima e a tornam capaz de se decidir, optando pelo afastamento definitivo.
O apaixonador luta por não se polarizar em nenhum lado.
O mais desapaixonado é o mais apto a jogar com suas próprias
atitudes contrastantes de modo a confundir o outro a respeito de suas
intenções e manter o mistério. Então a vítima será incapaz de tirar uma
conclusão definitiva a respeito do que o outro sente e do valor que confere
à relação por não ter parâmetros coerentes para julgar.
As atitudes são tomadas em função do que acreditamos e se os dados
forem contraditórios, não conseguiremos acreditar se a outra pessoa nos
ama ou nos despreza.
24
Não obstante, o manipulador sugere à vítima, sem lhe dar certeza, que
a ama e não de que a odeia. Excita sua imaginação ao sugerir-lhe que seu
anelo de ser amado pode ser satisfeito.
A mentira, sagrada lei regente das relações sociais neste mundo
tenebroso, se mescla constantemente à verdade na fala e no comportamento
geral do perigoso apaixonador.
A proteção é conseguida preservando-se a ciência de que as atitudes
do apaixonador formam um conjunto de mentiras misturadas com verdades
no qual não se pode acreditar e nem tampouco passar ao extremo oposto: o
da descrença absoluta.
Há uma grande vantagem em sermos desapaixonados porque, deste
modo, nos tornamos resistentes às tentativas de encantamento por parte de
pessoas desonestas.
25
7. A apoderação da vontade alheia
26 de março de 2003
Todo o comportamento humano apresenta reflexos ou reações no
outro. Tudo o que alguém faz possui a intenção de provocar sentimentos,
pensamentos e ações nas outras pessoas. Quando cumprimentamos alguém,
temos a intenção de fazê-lo crer que somos amigáveis e de sentir simpatia
ou, pelo menos, evitar que sinta antipatia. Aquele que escarnece de uma
pessoa, quer induzí-la a se enfurecer ou a se sentir diminuída. O bandido
que aponta um revólver para sua vítima, quer induzí-la a sentir medo.
Queremos ostentar luxo para que os demais sintam admiração ou inveja. A
mulher que exibe seu corpo quer provocar desejo. Todos esses
comportamentos, e quaisquer outros comportamentos sociais, são
intencionais e manipulatórios pois visam forçar o próximo a cair em estados
emocionais específicos. O ser humano, ainda inconscientemente, não age
sem segundas intenções. Isso não é, em si, mau, desde que não sirva como
meio para prejudicar o próximo ou atingir fins egoístas. As habilidades
humanas devem ser empregadas para defesa legítima ou para benefício do
próximo.
A identificação dos rumos assumidos pelos fluxos libidinais de
alguém permite estreitamento da afinidade simpática. Os fluxos libidinais
são as fraquezas: amores, ódios, anelos e terrores. Uma vez identificadas, as
fraquezas podem ser instrumentalizadas para dominação.
A instrumentalização acontece principalmente pela fala, mas também
pela expressão facial e pelas atitudes.
Para roubar a vontade alheia, o manipulador precisa falar mal daquilo
que a vítima detesta, elogiar aquilo que ela ama e dar-lhe segurança contra
aquilo que teme. Deste modo, o fluxo libidinal é intensificado pela junção
de fluxos libidinais equidirecionados e cria-se uma cadeia magnética.
26
A eficácia do poder magnético é diretamente proporcional à vontade
impressa no ato. Se o manipulador agir com vacilação, o elemento passivo
não será magnetizado suficientemente.
Ao falar-se com intenso sentimento e concentração, imprime-se força
à corrente magnética e esta aborve os fluxos da vontade alhia.
Em geral, aquele que quer se apoderar da vontade de alguém, costuma
primeiramente estreitar sua afinidade simpática com esse alguém, como
fazem alguns vendedores. Para obter tal estreitamento, as paixões
necessitam ser identificadas. Em seguida, o espertalhão bendiz aquilo que a
pessoa ama e maldiz o que a mesma detesta a fim de se encaixar
perfeitamente na estrutura de suas paixões. Assim a afinidade simpática se
estreita e se aprofunda até um ponto perigoso.
Uma vez que a cadeia esteja ativa, ou seja, que a simpatia tenha se
aprofundado o manipulador se defronta com a dificuldade em controlá-la.
O controle é obtido ao se fazer o outro crer que realizará seus desejos
ao adotar os comportamentos desejados pelo velhaco. A palavra joga um
grande peso nesta etapa.
Uma vez que a vítima esteja aberta, em guarda baixa, é induzida a
acreditar, através do diálogo, nas vantagens das atitudes que o manipulador
quer que a mesma tome.
Mas nada disso será possível se a vítima estiver fechada à influência.
O isolamento simpático atrapalha totalmente este trabalho e é, portanto,
uma maneira de nos defendermos contra os charlatães.
O desejo mais intenso e profundo da alma de um homem, por mais
sublime, altruísta e maravilhoso que seja, é seu ponto fraco principal, a
chave para sua perdição. Se um inimigo acenar com a possibilidade de
satisfazê-lo, incendiará sua paixão e poderá levá-lo aonde quiser,
27
enlouquecido. Por este motivo, as pessoas que nos agradam podem ser tão
perigosas quanto as que nos desagradam. Pergunte-se: "Quais são os desejos
mais intensos que possuo?". A resposta irá revelar os meios pelos quais sua
vontade pode ser capturada e manipulada por um inimigo, tornando-o
escravo.
28
8. O caráter auto-dominatório da manipulação
O processo dominatório é auto-propulsor. Na verdade, não é, em
última instância, o manipulador que domina o outro: o elemento passivo é
dominado por seus próprios complexos (defeitos ou egos). Ao ativar suas
fraquezas passionais, o criminoso apenas atua como simples agente
facilitador e intensificador de um processo que já existia.
Na manipulação, o charlatão não impõe seus caprichos, anelos e
metas contra a vontade da vítima mas, ao contrário, confere às suas
vontades, já existentes, uma utilidade. Não a força a ir contra si mesma: a
joga de cabeça em seus próprios desejos, sonhos e loucuras. Isto é sempre
um crime contra a alma e contra o livre-arbítrio que apenas em casos
especiais de legítima defesa se justifica
2
.
Para encontrar sentido nas tendências alheias é preciso imensa
experiência com o trato humano e conhecimento da singularidade do
elemento passivo. O manipulador descobre, nas tendências alheias,
convergências com suas metas e não tenta impor, a partir de suas metas, a
tendência a ser excitada. Entretanto, tudo dependerá do objetivo. Se for sua
intenção destruir ou abusar do próximo, o que é infelizmente o mais
comum, algumas paixões específicas terão que ser ativadas. Nos casos em
que a intenção é ajudar, outras serão as paixões excitadas. Ativar o gosto
pela vida em um candidato a suicida é uma boa ação.
A partir de certos comandos específicos, as emoções impelem
necessariamente as pessoas em certas direções. Para conduzí-las
inconscientemente nessa mesma direção, basta que se conheça os comandos
corretos e os aplique. A manipulação depende da aptidão de identificar as
tendências que, inversamente à aparência, levem o elemento passivo ao
encontro dos objetivos. Este é o ponto mais difícil. Uma vez identificada a
2
Por legítima defesa entenda-se: o ato de desarticular as manipulações de uma pessoa
mal intencionada.
29
tendência correta, tudo flui facilmente mas o trabalho de identificação nem
sempre é fácil, requer grande experiência com o trato humano e
conhecimento da natureza específica da pessoa a ser manipulada.
Os principais paixões determinantes de um processo manipulatório
são as aversões e os desejos. As aversões correspondem a medos e ódios; os
desejos correspondem às cobiças, aos anelos e aos sonhos. Obviamente,
todos os elementos psíquicos se entremeiam. As aversões promovem
antipatia e os desejos promovem simpatia. A vítima sempre tende a crer
mais facilmente naquilo que teme ou deseja.
Contra as forças internas, o homem é indefeso.o é necessário,
portanto, manipulá-lo de fora quando se sabe ativar os elementos internos
que o levarão à meta almejada.
Respeitar o livre-arbítrio do outro é permitir-lhe o direito à auto-
determinação, deixá-lo ser o que é e fazer o que quer. É respeitar os seus
desejos ao invés de tentar fazê-los fluir ao contrário. Curiosamente, quando
tal se verifica, a pessoa abre a oportunidade de ser dominada através de si
mesma, infelizmente. Vemos então que os seres humanos estão
permanentemente vulneráveis e expostos a menos que descubram e
combatam suas fraquezas.
Pode-se corromper as pessoas por meio de suas más inclinações
previamente existentes. Para tanto, basta que o manipulador as acenda por
meio de palavras e gestos. Felizmente, pela mesma via podemos regenerá-
las. Entrar em sintonia com aquele que se pretende dominar é ser capaz das
mesmas atitudes e falas às quais o mesmo está inclinado. A maleabilidade
exigida se consegue apenas por meio da morte dos egos. Aquele que não
tem paixões não tem expectativas fixas, rígidas e previamente estabelecidas
com relação ao próximo e por isto pode instrumentalizar para seus fins as
tendências comportamentais alheias. Obviamente, se o ego estiver morto os
fins não serão egoístas e nem passionais.
30
Por desgraça, é muito mais fácil excitar a paixão alheia para o mal do
que para o bem pois o mal corresponde às tendências reprimidas. O mal
corresponde aos desejos proibidos, os quais possuem enorme carga libidinal
contida. O conhecimento da disposição do outro é indispensável e é obtido
por meio da observação.
O rigoroso cuidado posto sobre a nossa morte psicológica nos torna
imunes aos efeitos hipnóticos e contra-hipnóticos que as operações
desencadeiam, nos permitindo fazer frente aos charlatães e velhacos
manipuladores, devolvendo-lhes influências. Sem a morte dos desejos
somos vitimados pelas forças fascinatórias que ativamos ou que tentam
ativar em nós.
Ao lidarmos com pessoas extremamente perigosas, complicadas ou
difíceis, temos que aprender a nos mover entre suas paixões. "Colocar-se na
mesma corrente de pensamentos que um espírito", como escreveu Eliphas
Lévi (1855/2001), é ser capaz de simular semelhança e convergência de
propósitos. "Manter-se moralmente acima do mesmo", é estar isolado da
mesma influência e não ser atraído pelo mesmo objeto. Em outras palavras:
simular um comportamento com o cuidado de não ser absorvido e dominado
por este comportamento, reforçar as idéias do outro sem ser magnetizado
por elas.
Tudo se resume em estar interiormente livre para permitir o curso das
paixões alheias sem ser afetado e nem arrastado pela corrente que se cria
mas, ao contrário, arrastando-a.
Os maus necessitam do sofrimento dos bons para se satisfazerem.
Empreendem imensos sacrifícios para prejudicá-los e até mesmo se expoem
a riscos. Quando não conseguem atingir este intento, sofrem
emocionalmente pois a energia maligna que criaram dentro de si não
encontra receptáculo fora e retorna ao seu ponto de partida, podendo
inclusive provocar-lhes doenças. É deste modo que os bons atormentam os
31
maus. Logo, é uma grande vantagem sermos superiores aos malvados e o
conseguimos quando somos impenetráveis ao medo, ao ódio, aos afetos, aos
apegos e a todas as paixões. Quando dissolvemos os egos, nos tornamos
imunes a todo feitiço e encantamento por não sermos mais o pólo reativo
contrário receptor do magnetismo mas sim emissor. Seremos um espelho
que refletirá e devolverá exatamente aquilo que nos for lançado. Se nos
lançarem feitiços de dor (insultos, ameaças, impropérios, ódio etc.), não
sofreremos e esta dor retornará ao seu ponto de partida. Se nos lançarem
encantamentos de prazer (tentativas mal intencionadas de sedução por meio
de elogios, manipulações amigáveis, insinuações sexuais etc.), não nos
envolveremos e nem seremos encantados, fazendo com que o manipulador
caia na frustração e sofra por não alcançar seu propósito. Nossa aura
repelirá as pessoas malvadas.
Do ponto de vista moral, o contra-feitiço e o contra-encantamento são
justos porque são legítimas defesas. Não há nada de errado em defender-se
das investidas de um manipulador para devolver-lhe as exatas
consequências internas de suas próprias atitudes e os decorrentes venenos
que haviam sido destilados e destinados para nós. O erro está em tomar a
iniciativa de enfeitiçar ou encantar, ato que sempre se deverá à cobiça e aos
desejos egoístas. Eis porque devemos perdoar, resistir internamente às
influências hipnóticas e não reagir às provocações, insultos, humilhações,
ameaças, perseguições etc. Entretanto, resistir às influências hipnóticas nem
sempre significa ausência de ação
3
pois há casos em que é impensável
manter-se de braços cruzados e compactuar com a injustiça e com o
massacre dos inocentes e indefesos.
Se você for capaz de ir contra si mesmo (suas rígidas estruturas de
pensamento e sentimento), aceitando as metas, pontos de vista e ações
absurdas de seu manipulador sem, entretanto, com elas se identificar,
3
Mas significa exatamente isso na maioria das vezes. O caminho é o ensinado por Ganhdi, Budha e Cristo: a
não-ação e o boicote à maldade.
32
poderá excitar suas paixões e levá-lo a se auto-destruir, como uma pessoa
que é atingida na cabeça pelo próprio bumerangue que lançou.
33
9. A singularidade comportamental do elemento passivo
Em 16 de maio de 2003
O manipulador toma o cuidado de interagir de acordo com o
temperamento particular de cada pessoa pois a tendência à generalização
pode levá-lo a erros fatais.
Observador atento, acompanha os nossos passos e vai compreendendo
como sentimos, pensamos e agirmos para nos tomar por nossas loucuras.
Contempla nossas peculiaridades psíquicas na tentativa de compreender
nossos padrões comportamentais de ação e reação ante os fatos.
A preocupação com a singularidade comportamental do elemento a ser
manipulável se deve a uma necessidade de o manipulador não atrair contra
si um fluxo imprevisto da corrente magnética que pretende desencadear. O
desconhecimento da singularidade, efeito nefasto da tendência à
generalização, impede a presciência da totalidade das reações a
desencadear.
Quanto mais profunda e abrangente for a presciência das reações a
serem desencadeadas a partir de ações do manipulador, mais exatamente ao
encontro dos seus interesses irão os resultados. O poder de manipulação do
outro ocorre na proporção direta da profundidade-abrangência do
conhecimento de suas reações mecânicas aos acontecimentos. Quanto mais o
manipulador conhecer sua vítima, mais poder sobre ela possuirá.
Mas o conhecimento concreto e seguro é singularizante, daí o cuidado
com as generalizações. O manipulador hábil não atua na incerteza a respeito
de como o outro reagirá.
Para despotenciar e confundir um manipulador hábil e deste modo nos
defendermos, temos que dissolver os egos. Ao fazê-lo, eliminamos as
reações mecânicas e padronizadas, induzindo o observador ao erro. Ao nos
34
estudar, o usurpador de vontades tirará conclusões errôneas a respeito dos
nossos padrões de ação e reação. Então ficará surpreso ao perceber que não
reagimos como ele havia previsto. Tentará repetí-lo outras vezes mas
sempre ficará desconcertado com a ausência de padrões reativos.
Deste modo, ou seja, pela morte dos egos, impedimos o manipulador
de penetrar em nossa individualidade.
A observação e a interação com a vítima permite a identificação seus
temores e desejos específicos e gerais, principais e secundários. Uma vez
identificadas tais fraquezas, o manipulador as excitará até níveis
insuportáveis para que suas nefastas consequências se façam sentir.
35
10. O uso da simpatia da maioria dos elos de uma cadeia por homens vis
As correntes magnéticas são instrumentalizadas habilmente por uma
categoria especial de homens vis: os covardes que fogem de todo confronto
individual solitário com um rival e travam embates somente diante da vista
de várias pessoas. Os tenho encontrado em vários ambientes.
A presença de um grupo expectador previamente e inconscientemente
cooptado fornece refúgio e nutrição energética ao covarde. O significado
que sua figura possui para a coletividade funciona como uma arma que pode
ser instrumentalizada para endossar seus ataques contra uma infeliz vítima
desconhecida entre a multidão. Sua posição privilegiada (por ser um líder
ou uma autoridade, ainda que de modo não assumido) lhe permite dispor do
fluxo energético da maioria dos presentes para endossar a força de seus
golpes.
Esse reforço é conseguido pela simpatia. O covarde especialista em
combater sob observação dos outros sugere à multidão, de modo
imperceptível, que as idéias que ele defende convergem perfeitamente com
as idéias da coletividade presente. Deste modo, há um reforço no substrato
energético emocional da fala pela identificação inconsciente das pessoas
presentes com o que o velhaco defende. Uma rápida observação permite
flagrá-lo no ato de dar a entender aos ignorantes que suas idéias e as destes
últimos são exatamente as mesmas. Assim advém um incremento artificial
da energia.
Além disso, se valem da preocupação da vítima solitária com sua
própria auto-imagem. Jogam com esta fraqueza todo o tempo e a dominam
desviando sua atenção para a preservação da auto-imagem ao fazê-la a
sentir que a mesma está sendo arranhada ou destruída. Podem se valer de
várias ferramentas para induzir seus oponentes à timidez e ao medo
(erudição, menção a nomes de obras literárias ou autores consagrados pelo
grupo presente, menção a títulos, a cargos, a nomes de alguma família
36
importante à qual pertença, amizades que possua com figuras importantes
da sociedade etc. etc. etc.) e no consenso coletivo de que as mesmas são
sinais de superioridade, sabedoria e conhecimento verdadeiros.
Em geral, essa classe de eunucos do entendimento foge aterrorizada
de embates individuais. Sozinhos, são raquíticos e indefesos. Quando os
desafiamos, tentam a todo custo trazer a luta para a esfera coletiva, seu
terreno, pois não possuem força própria, se valendo apenas das forças
alheias para interagirem com rivais.
Um modo de despontenciá-los é sermos mais simpáticos do que eles
com a massa de pessoas hipnotizadas. Além disso, podemos forçá-los a cair
em descrédito atraindo-os, através de suas paixões, para alguma atitude que
quebre a simpatia da imagem sobre a qual seus poderes repousam (induzi-
los a perder o controle e a nos atacar furiosamente, por exemplo).
Um modo de atormentá-los a níveis insuportáveis é sermos superiores
a eles em profundidade e nobreza de espírito, fluxo de idéias e sofisticação
da palavra. Se agirmos assim e tais atributos forem simpáticos à
comunidade que lhes dá sustentação, os forçaremos a cair em desespero
devido à perda de um ponto de apoio e fonte de alimentação. Eles então
começam a atingir a si mesmos.
Em qualquer cadeia magnética os encontramos. São sempre aqueles
que conseguem se apoderar rapidamente da vontade dos demais sem serem
detectados. Os fantoches, manipulados, acreditam que possuem vontade e
atitudes próprias mas, na verdade, simplesmente atendem aos interesses do
manipulador.
37
11. O magnetismo nas polêmicas
24 de novembro de 2002
Nos vários diálogos que tive com certos tipos de intelectuais
4
observei que o poder dos mesmos se encontrava mais na indução de
insegurança, ira e confusão no outro do que na coerência das idéias que
defendiam. Observei também que tendem a relutar em ir para o confronto
direto, incisivo e concentrado, preferindo desconcertar o interlocutor com
indiretas que o deixem na dúvida a respeito de estar ou não sendo atacado.
As armas mais proeminentes que verifiquei foram o sorriso cínico
associado à calma e à fala debochada não assumida. São elementos que
parecem sustentar-se na sensação auto-induzida de se estar no controle da
situação e que possuem grande poder magnético de indução e grande
impacto emocional em pessoas abertas e indefesas.
Ao ser o interlocutor forçado a cair em estados emocionais
desfavoráveis, seu fluxo de idéias sofre uma interrupção, o que o leva a
girar em círculos à procura da melhor reação, das melhores frases a serem
ditas e das melhores idéias a serem expressas.
Para nos protegermos e refratarmos esse fluxo de força é
imprescindível mantermos a calma ao máximo, relaxando enquanto
aplicamos uma sobreposição concentrada de nossa idéia com descarte total
das ludibriadoras idéias e falas alheias. Assim raptamos ao intelectual a
sensação de controle e firmeza que induziu a si mesmo como ponto de
apoio.
O fundamento da sobreposição concentrada da idéia é a colocação do
nosso ponto de vista durante as pausas no monólogo que o intelectual
pretende instalar aliada à manutenção de uma ausência total de reação
4
Refiro-me a velhacos sofistas e não aos estudiosos sinceros.
38
interna às suas tentativas indutórias e hipnóticas. A grande dificuldade é
manter a mente quieta e sem interrupção do nosso fluxo de idéias.
O melhor momento para desferir os ataques é durante as pausas que o
oponente realiza para respirar ou para organizar as idéias. Entretanto, se o
velhaco do intelecto for muito louco, daqueles que gritam sem pausas,
talvez tenhamos que cortar sua fala ao meio, falando simultaneamente.
Segundo a compreensão média, comum e corrente, aquele mais ataca
durante uma discussão é o vencedor. Os leigos pressupõem que aquele que
fala muito sabe mais e possui mais informações do que o oponente, ainda
que fale apenas besteiras. Entretanto, a prática de muito falar é desgastante.
O melhor é deixar que o oponente fale bastante para se cansar e, de tempos
em tempos, atacá-lo fulminantemente em suas pausas. Use um tom de voz
imperativo, dominante. Não corra atrás dos erros e enganos de seu oponente
e nem tampouco alimente a ilusão de poder levá-lo a reconhecer seu erro.
Não perca tempo na defensiva. Se quiser explicar suas razões faça-o de
forma direta, sem perseguir a fala de seu inimigo.
Devemos desenvolver a capacidade de encontrar as respostas a serem
ditas sem preparo prévio, como se faz no Jeet Kune Do com os movimentos
do corpo, no Jazz e no Flamenco com as frases musicais.
A parada psíquica resulta da tendência em ficarmos procurando a
melhor resposta ou reação ao momento. O caminho da superação é o de
iniciarmos emitindo respostas errôneas ao mesmo tempo em que as vamos
corrigindo progressivamente. Para tanto, convém encontrar situações de
treino altamente realistas nas quais os erros possam ser cometidos
ilimitadamente mas sem risco real para nossa integridade (para o boxeador
seria o sparring, para o músico seriam os ensaios).
39
As respostas corretas existem previamente em nossa psique
inconsciente. A dificuldade reside em extraí-las pois, durante as discussões,
nos paralisamos ao tentar criá-las.
Nas discussões há um forte substrato emocional que é preponderante
na definição de seus desfechos. Ao contrário das aparências em que todos
acreditam, o que determina quem as vence é a convicção de estar com a
razão e a capacidade de ser mais frio, direto e objetivo do que o outro.
Preocupe-se em ser superior ao seu oponente em calma e frieza. Deixe que
ele enlouqueça. Esteja presciente contra reações violentas e as receba com
naturalidade. Não se deixe ser atingido por gritos ou tentativas de
humilhações.
As discussões são jogos: cada uma das partes tenta atingir a outra ao
máximo e ser atingida ao mínimo.
Há vários egos que nos tornam vulneráveis: a preocupação com o que
o outro pode estar pensando, o desejo de fazê-lo reconhecer seus erros, o
medo de sermos expostos ao ridículo, a impaciência ante suas rajadas de
palavras etc. etc. etc. Todos nos vulnerabilizam e conduzem à parada
psíquica.
Os defensores de idéias absurdas, velhacos que odeiam a verdade e
amam a mentira, trabalham com a desconcentração: impedem que o
pensamento do interlocutor oponente se concentre. Ao impedir a
concentração do pensamento, desarticulam a análise concentrada,
fragmentando-a. Para induzir a desconcentração fragmentadora da análise,
abordam muitos assuntos simultaneamente sem nenhuma profundidade. É
por isso que muitas vezes a pessoa que defende a idéia mais coerente é a
que perde a discussão.
O poder magnético da fala do charlatão atrai a atenção do interlocutor
oponente e arrasta seu pensamento para múltiplos temas que nenhuma
40
importância possuem para a compreensão do ponto específico levantado mas
que são eficientes para confundir a análise e criar no outro a necessidade de
se explicar, de tentar corrigir erros, desfazer mal-entendidos etc. Ao "correr
atrás" das bobagens ditas pelo espertalhão, o oponente sincero cai em uma
armadilha: é atraído para a análise fragmentada e superficial que aborda
simultaneamente muitos pontos sem penetrar em nenhum. É assim que as
falhas lógicas, incoerências, falácias e sofismas se preservam. É assim que
perguntas desaparecem sem terem sido respondidas. É o caos dialógico, o
pandemônio de idéias, a confusão que favorece a mentira, o engano.
Combatemos esta artimanha com a concentração da atenção e do
pensamento na análise que estamos realizando, sem nos deixar desviar u
distrair, a despeito de todas as provocações, desafios etc. Costuma dar
resultado o procedimento de ignorar totalmente as asneiras que o oponente
diz e ir colocando nossa idéia aos poucos, como se fôssemos absolutamente
surdos às tentativas de indução de desconcentração, desvios e distrações.
Jamais corra atrás do que lhe for dito, na vã esperança de que erros do
velhaco possam ser reconhecidos. Quando as rajadas de palavras forem
disparadas, deixe-as sair, aguente e aguarde calmamente. Não perca seu
tempo correndo atrás delas pois é isso o que seu oponente deseja para
confundí-lo. Obviamente, ele terá que parar para respirar e, neste momento,
você faz suas colocações, as quais devem ser incisivas, sintéticas, diretas,
curtas e fulminantes. Nos casos extremos em que o manipulador fala e grita
como uma cachoeira, sem interrupções, podemos falar simultaneamente. Em
algumas situações, podemos calá-lo somente olhando fixamente em seus
olhos de forma determinada, quase ameaçadora, se conseguirmos instalar o
estado interno correto. O olhar e a voz possuem enorme peso na emissão e
na devolução dos feitiços e encantamentos por serem hipnóticos e anti-
hipnóticos ao mesmo tempo.
41
Algumas poucas (muito poucas!) vezes, você pode extrair do lixo dito
por seu adversário alguma idéia para tecer um comentário destrutivo e
confundí-lo.
O que importa, aqui, não é fazê-lo compreender nada mas sim cumprir
nossa parte, esclarecendo nosso ponto de vista (ato que pode ter o efeito de
confundí-lo), pois somente podemos fazer compreender erros àqueles que
desejam compreendê-los e não àqueles que desejam defender suas idéias. É
perda de tempo tentar fazer um polemizador compreender algo. Divirta-se
em vê-lo perdido e estonteado.
Para resistir à rajada de palavras, é importante não se identificar com
as mesmas. Resista ao magnetismo fatal da voz humana.
Antes de tudo, é necessário um estado interno correto que se
caracteriza por frieza, incisibilidade, objetividade, impiedosidade,
adaptabilidade, flexibilidade e calma. O estado interno correto vem antes
mesmo dos argumentos.
Em polêmicas, os intelectuais sempre costumam impedir a exposição
das idéias opostas às suas por meio de seguidas intervenções que afastam o
pensamento do núcleo da análise, evitando seguir o curso do raciocínio que
expomos, nos interrompendo a todo momento com observações e perguntas
que embaralham as idéias etc. Esta prática tem como efeito confundir.
Falam e pensam rápido, para confundir. Rejeitam totalmente a análise calma
e imparcial. Temem se exporem ao confronto sozinhos e necessitam da
segurança proporcionada pelas cadeias magnéticas que criam e comandam.
A estratégia que utilizam para vencer as discussões é levar o oponente a se
perder na confusão de sentimentos caóticos, induzindo-o a ficar possesso
por emoções como ira, medo, vergonha etc. Para vencê-los, sempre tive que
fazê-lo psicologicamente, dominando-me, ou seja, vencendo a mim mesmo
para em seguida vencê-los por extensão.
42
Podemos sintetizar os mecanismos sabotadores de análise nas
polêmicas do seguinte modo:
intervenções que afastam a atenção e o pensamento da questão
principal em discussão;
intervenções que tem o efeito de atingir o sentimento,
confundindo;
intervenções múltiplas, contínuas e rápidas que não permitem que
o pensamento do interlocutor seja exposto e acompanhado;
utilização de voz alta para provocar medo;
alusões a aspectos delicados da vida pessoal do interlocutor;
tentativas de diminuir e envergonhar o intelocutor mediante o
apelo a titulações e fatos econômicos.
Precisamos ser absolutamente impenetráveis a todas as formas de
feitiço apontadas cima. Nenhuma deve ser capaz de afetar nosso ânimo. Se
nos mantivermos firmes e inacessíveis como uma rocha enquanto expomos
nossas idéias, ignorando totalmente as falas inúteis do manipulador, seu
feitiço será lançado de volta, pela lei do movimento especular, atingindo-o.
Então o veremos surtar loucamente atingido pelo ódio, pela vergonha, pelo
medo e por outros estados internos maléficos que haviam sido destinados a
nós mas que repelimos.
Uma conjunctio de fúria e calma se faz indispensável. A
destrutividade do espírito de combate necessita ter seu lugar na alma, do
mesmo modo que a amabilidade e a doçura. Todas são funções psíquicas
que não podem ser dispensadas. Em polêmicas graves, um dos segredos é
uma espécie de raiva intensa porém controlada e direcionada. Olhe seu
oponente nos olhos com fúria, sem medo, como em um combate. Porém
43
sempre avalie as consequências posteriores que tal confronto possa ter.
Nunca é saudável ter inimigos porque, se os vencemos, eles não nos
esquecem e prosseguem nos perturbando, reunindo forças contra nós etc.
Certos charlatães materialistas dogmáticos, céticos unilaterais,
ortodoxos conservadores, fanáticos religiosos e outros sofistas inimigos da
verdade
5
rejeitam o estudo metódico por inquirição em estilo socrático.
Tentam convencer confundindo ao invés de buscarem convencer
esclarecendo porque vencer as discussões é sua meta única e maior, pela
qual estão apaixonados. Não almejam estudar e compreender em comunhão
com o interlocutor. Rechaçam o estudo sincero imparcial e a compreensão
dos temas sob o ponto de vista alheio. Quando os pontos nevrálgicos de
suas teorias são tocados por perguntas incisivas, lançam mão de estratégias
ludibriadoras para distrair o inquiridor: falam muito ou lançam vários
questionamentos recheados por termos provocativos com o intuito de
desviar a atenção dos pontos fracos de suas hipóteses para assim mantê-los
ocultos. Quando encurralados, se enfurecem para amedrontar (característica
animal). Em última instância, estão comprometidos em defender as próprias
idéias e não se interessam em estudar.
A disposição que os sofistas possuem para o estudo verdadeiro é
apenas parcial, relativa, pois a sustentam somente até o momento em que as
falhas lógicas nos pontos nevrálgicos de suas teorias são expostas. A partir
daí a disposição para o estudo termina. Não possuem preparo psicológico
para os desconfortos da análise e carecem de uma capacidade fundamental
em qualquer analista: a de trocar de ponto de vista continuamente.
Infelizmente, no meio acadêmico de muitos países eles ainda são
maioria. Acreditam-se donos da ciência e rejeitam a filosofia e a religião,
ignorando que filosofia, ciência e religião se tornam desvios aberrantes
quando divorciados. Como dominam os aparatos oficiais de elaboração de
44
conhecimento e contam com a legitimação do poder, desde tal posição
difundem a ignorância sob disfarce de sabedoria na sociedade. Aliás, a
priorização de seus compromissos políticos e econômicos em detrimento da
verdade provém desta posição.
Podemos concluir, assim, que os sofistas charlatães defendem suas
mentiras por serem estupidamente ignorantes ou talvez, na pior das
hipóteses, por serem terrivelmente mal-intencionados. Assim opera neles o
magnetismo.
Observemos como se discute com charlatães em geral. Devemos nos
ater ao ponto nevrálgico que dá origem à discussão e resistir a toda
investida fascinatória que possa nos distrair e desviar o rumo da análise.
Os charlatães necessitam, pela própria natureza de seus objetivos
desonestos, impedir a análise esclarecedora e instalar a confusão, já que é
somente assim que mentiras e hipóteses mal elaboradas podem resistir. Para
tanto, costumam principiar a discussão em torno de um ponto e em seguida
inserem, propositalmente, muitos outros pontos na discussão para torná-la
caótica. Estes pontos inseridos astuciosamente aparentam ter ligação com o
tema estudado mas na verdade apenas se destinam a distrair e confundir o
pensamento, gerando o que chamo de caos dialógico. Este caos dialógico
então camufla as incoerências e falhas lógicas dos raciocínios falaciosos
fazendo as mentiras parecerem verdades e as verdades parecerem mentiras.
É por esta razão que os juízes não permitem discussões em tribunais,
mas apenas inquirições, pois sabem muito bem que as piores pessoas
costumam ser as melhores na arte de ludibriar. É pela mesma razão que os
filósofos antigos decidiam antecipadamente quem iria perguntar e quem iria
responder.
5
Refiro-me a fanáticos extremistas e não aos representantes sensatos e lúcidos das várias correntes de
pensamento materialista ou espiritualista existentes. Em ambos os lados há pessoas conscientes e insensatas.
45
Combate-se facilmente tais artimanhas por meio da concentração e da
recordação de si mesmo. Primeiro: deve-se capturar o ponto nevrálgico da
discussão e não largá-lo de maneira alguma. Segundo: deve-se resistir a
todas as tentativas de indução de fascinação e distração. É indispensável
jamais correr atrás dos equívocos manifestados pelo opositor na tentativa de
fazê-lo compreender e admitir seu erro pois é exatamente isso o que ele
quer. Ao perder o tempo tentando convencê-lo, você se distrai e deixa de
aprofundar o ponto que o espertinho quer manter oculto.
Os charlatães sofisticam-se na arte de fascinar e distrair. Enquanto
estão conseguindo fascinar, estão no comando, manipulando as crenças,
sentimentos e pensamentos do opositor. Se, entretanto, este se torna
refratário às fascinações, isto é, se passa a ignorá-las totalmente e continua
em seu pensamento, a tentativa de indução de sentimentos fracassa
totalmente. Então acontece algo curioso: o velhaco é atingido pelo fluxo de
energia fascinatória que criou na mesma proporção de seus esforços para
nos fascinar. Quanto maiores os esforços para manipular nossos
sentimentos, maior a frustração ao não conseguí-lo. Então vários
sentimentos negativos o invadem, do mesmo modo que seríamos invadidos
caso não houvéssemos fechado a passagem ao fluxo magnético.
.
46
12. A dinâmica psicológica do encantamento e da feitiçaria
Em 25/07/00, 31/07/00 e 09/11/00
O que os supersticiosos chamam de enfeitiçamento corresponde,
psicologicamente, à fascinação da consciência. Ambos serão considerados
aqui como uma só coisa e não como duas coisas análogas.
O enfeitiçamento é uma forma de fascinação extremada, exarcebada.
Por isso os feiticeiros necessitam da crença de suas vítimas em seu poder de
matar ou fazer adoecer.
Uma pessoa absolutamente cética é imune ao poder de um feiticeiro.
Se um cético for enfeitiçado, isso indica que seu ceticismo não foi absoluto,
que houve uma vacilação inconsciente.
O mesmo processo se verifica na sedução. Uma mulher é invulnerável
ao poder de um sedutor quando não crê que ele tenha algo que lhe interesse
e, por extensão, o poder de atraí-la.
Entretanto, algumas vezes cremos estar invulneráveis ao poder de
alguém em um primeiro momento e, em outra situação, o surgimento de
algo novo e ainda não conhecido por nós faz a convicção anterior ruir.
Então ficamos vulneráveis.
O encantamento requer o conhecimento prévio das debilidades de
quem vai ser encantado. Não é possível que alguém seja encantado em uma
direção contrária à de suas fraquezas.
O encantamento apenas ocorre na direção das fraquezas previamente
existentes, sejam elas conscientes ou inconscientes. Trata-se, portanto, da
instrumentalização ou aproveitamento de impulsos que já existiam: uma
forma perversa de se aproveitar das fraquezas do próximo e violentar seu
livre arbítrio.
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O encantador identifica e excita os impulsos e instintos em sua vítima
até levá-la a um estado alterado de consciência. A profundidade da
alteração dependerá da natureza de cada um e do grau de exposição.
Todos temos fraquezas. Essas fraquezas correspondem à nossa
fascinação louca por algumas coisas em detrimento de outras. Os objetos
dessa fascinação são os instrumentos de submissão a um inimigo astuto.
Os crimes e as matanças que assolam o mundo se devem à fascinação
da consciência por um objeto, um alvo, uma meta. É o maior perigo
psíquico que pode nos acometer porque é a debilitação da vontade levada ao
extremo.
O poder do feiticeiro consiste em fazer com que sua vítima entre em
um estado alterado de consciência através do medo. Seus ritos visam
aumentar o poder de impressionismo e impactar psiquicamente o inimigo. O
poder é intensificado quando o bruxo se entrega a uma possessão por
complexos autônomos altamente densos.
Após inúmeras crueldades e tormentos inflingidos a si próprio e a
outras pessoas ou animais, o bruxo realiza dentro de si o mal. Então,
possesso, comunica a sua vítima o que fez por canais conscientes ou
inconscientes. Sua expressão, entonação vocal, gestos corporais e atitudes
horríveis impactam a vítima emocionalmente e debilitam sua razão e
vontade. A mesma se abre a suas influências "diabólicas" e sofre
igualmente uma possessão por elementos psíquicos inumanos que jaziam em
seu inconsciente. Ocorre um choque psicossomático. A pessoa somatiza
violentamente o medo e morre ou adoece.
A primeira solução para não ser vulnerável à bruxaria é não temê-la.
Por isso os religiosos devotos são invulneráveis. Entretanto, se esse os
mesmos forem fanáticos, serão vulneráveis aos encantos e maldições de sua
religião, podendo ser por eles encantados, manipulados e atingidos.
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A fascinação brutal da consciência corresponde aos perish of soul
estudados por Jung. A pessoa perde sua "alma" habitual e é possuída por
outra "alma" demoníaca, ou melhor, um pedaço fragmentado e autônomo de
alma que aguardava nas profundidades de sua própria psique para se
manifestar. A consciência é violentada por um primitivo e grotesco
agregado psíquico do inconsciente.
Não há nisso nada de místico, fantástico ou mágico. São fenômenos
empiricamente constatáveis.
Em pequena escala, o encantamento está presente em nosso cotidiano
a todo momento.
As palavras que emitimos, as roupas que usamos e tudo o que
fazemos possuem o poder de provocar nos demais determinados sentimentos
dos quais não podem fugir. A palavra, os assuntos abordados e conversas, a
entonação vocal, as atitudes e os olhares são meios de instalação de
afinidade simpática com elementos psíquicos que habitam o interior da
psique e aguardam por uma oportunidade de expressão.
Todos somos, de um modo ou de outro, vítimas das circunstâncias.
Elas definem o que iremos sentir e pensar e até fazer. Isso prova que somos
enfeitiçados a todo instante.
Quando alguém nos ofende, não temos normalmente o poder de não
nos sentirmos ofendidos: estamos enfeitiçados.
A fascinação ocorre sempre com a colaboração inconsciente da
vítima. Ela a sofre por não saber como se isolar das forças hipnóticas do
outro.
Quando duas pessoas com desejos do mesmo tipo se unem, a de maior
vontade absorve e manipula a vontade da mais fraca e a domina. O mesmo
fenômeno se verifica em círculos sociais de vários tipos. Sempre há uma
49
hierarquia de poder na absorção da vontade alheia. Esses são outros modos
de encantamento.
Todo ato é fascinador e hipnótico porque provoca efeitos na psique
do próximo. O poder das caras feias e palavras hostis em causar desconforto
é uma prova disso.
Há uma dinâmica hipnótica nas relações sociais. Os homens tendem a
reagir mecanicamente uns aos outros. Não são poucas as vezes em que
somos forçosamente induzidos a ter emoções indesejáveis. Contra a nossa
vontade, somos lançados, a partir de atitudes alheias, a certos estados de
sentimento.
A loucura e a exaltação passional são formas de embriaguês
fascinatória.
Observando uma pessoa podemos saber em que direção flui sua
libido. É nessa direção que se dá a queda da pessoa em uma loucura.
Entretanto, nem todo encantamento é mau. Há casos em que ele é
benéfico. Ex: conversão religiosa de malfeitores.
Quando trabalhamos a nossa psique, o efeito fascinatório das imagens
externas e internas diminui pouco a pouco sua influência. Então a força
vampirizada nesse processo, desperdiçada em coisas inúteis ou até
perigosas, pode nos servir para auto-curas e auto-regeneração interna.
Encantamento, enfeitiçamento, fascinação e hipnose são vários nomes
dados a uma só coisa e não a coisas distintas e análogas.
Quando detestamos algo ou alguém estamos, sem o saber,
negativamente fascinados ou hipnotizados por imagens ligadas a tais
elementos.
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Existe uma relação analógica entre os procedimentos mágicos e os
seus resultados. Os ritos de feitiçaria e seus impactos sobre as vítimas
possuem uma similaridade simbólica demonstrável pela análise cuidadosa.
Isso aponta para a relação psíquica que há entre ambos. Ela se dá, em sua
maior parte, em níveis inconscientes. Muitas vezes, o enfeitiçador e o
enfeitiçado não se dão conta da complexa rede energética que os envolve
através de palavras, sentimentos, pensamentos e atitudes. E é justamente
isso que dá à magia uma aparência sobrenatural e mística pois aquilo que o
homem não percebe objetivamente se torna altamente atraente para a
imaginação fantasiosa. Mas, na verdade, a magia é uma manipulação de
forças naturais inerentes ao homem.
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Conclusões
As paixões tornam o ser humano vulnerável. Os desejos são paixões e
nos arrastam.
A mente do apaixonado está obsediada por elementários (larvas ou
formas-pensamento).
O apaixonado não é dono de si mesmo, suas ações não lhe pertencem.
Não é lícito manipular o próximo.
É lícito desarticular tentativas de manipulação de nosso psiquismo
por parte de outras pessoas.
Convém superar os medos e fraquezas para nos protegermos de
tentativas de manipulação.
Nem sempre as pessoas simpáticas querem o nosso bem e nem sempre
querem o nosso mal.
Nem sempre as pessoas antipáticas querem o nosso mal e nem sempre
querem o nosso bem.
A força manipulatória flui no cotidiano.
O livre-arbítrio alheio deve ser respeitado.
O livre-arbítrio alheio é desrespeitado pelo manipulador.
A ação especular (ação refratária) devolve as conseqüências dos
feitiços ao manipulador.
Evitamos que nossas crenças sejam manipuladas por meio do correto
ceticismo.
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A temperança, o equilíbrio, a serenidade e a sobriedade muito mais
recomendáveis do que a exaltação passional.
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Referência:
LÉVI, Eliphas (2001). Dogma e Ritual de Alta Magia (Edson Bini, trad.).
São Paulo: Madras. (Originalmente publicado em 1855). 5
ª
edição.
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Sobre o autor
O autor deste livro NÃO É MESTRE de ninguém e NÃO ACEITA
DISCÍPULOS. Ele NÃO É LÍDER DE NENHUMA RELIGIÃO.
Este autor é tão somente um LIVRE-PENSADOR independente, que
não possui nenhum compromisso com quaisquer grupos políticos, sectários,
religiosos, partidários ou econômicos. Suas idéias são PROVISÓRIAS e
foram publicadas apenas para serem discutidas e aprimoradas. Não existe
nenhum grupo, em lugar algum da Terra, que represente as idéias deste
autor. Obviamente, existem grupos de pessoas inteligentes com linhas de
pensamento semelhantes à dele mas tais grupos, definitivamente, não o
representam.
Este autor NÃO QUER FÃS E NEM ADMIRADORES, quer somente
leitores críticos e reflexivos.